Sexta

Bocejo.

O sol dá-me o bom dia pelos buracos da persiana. Não lhe respondo ainda.

Com as pernas levo os cobertores até ao fundo da cama e estico as pernas bem lá no alto enquanto me espreguiço.

Passo a cara em circuntâncias liquidas depois de ter lavado os dentes. Só agora lhe dou o bom dia.Visto as calças do orgulho e a camisola da paciência e desço para um pequeno almoço de irritação porque nunca demora o tempo que eu tanto desejara.Depois de uma trinca na torrada com compota de desejo dou um gole de saudade. Termino a torrada e pego em duas bolachas. Dou a primeira trinca na diferença e depois na estupidez.Arrumo tudo com a ajuda da indecisão e ponho-me a milhas depois de um até logo que chega a ser um até amanhã aos meus pais e irmão.Sento-me no carro e sigo pelo caminho da humildade. Dou mais um bocejo de resistência e ligo o rádio ao meu MP3 e ouço as músicas que ainda me mantêm vivo, faço curvas de alegria e paragens de tristeza mas até agora nunca nenhum embate de desespero. Ainda bem.Pelo caminho visualizo os putos com a famosa correria nas pernas e a gula nos olhos ao olhar para a bola de berlim que leva na mão...Vejo o velho sentado com o seu cachimbo da injustiça enquanto dá umas passas desejoso que saia igualdade em vez de fumo com cheiro a baunilha.Paro na passadeira próxima de uma paragem de autocarro para deixar passar um rapaz que faz o olhar invejoso a mim e aos meus ray ban! Eu rio-me pelo "puto" ter inveja de mim e do que sou e digo para mim "-Anda lá pah! Quando tiveres a miha idade és bem melhor que eu..."

Desço pela Serra em que um dia gostava que vissemos o nascer do sol, passo por caminhos de euforia eterna e por outros de moleza profunda, por rotundas de feira popular e por locais tão bonitos que nem os pombos são capazes de fazer as suas fezes lá...Passo por campos verdes que deveriam ser a minha paragem a minha vida.Chego ao trabalho e a música morre.

É mais uma chegada.

É mais uma sexta.

É mais um dia.

"Cada vez gosto mais de ti..."

Não devo ter ouvido bem com certeza.