quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Acontece (Parte 57)

Fui sempre um exemplo. Até aos catorze fui sempre um exemplo. Acreditem. Só queria era ser tenista profissional e não fazia mais nada. Quer dizer fazia, estudava, tirava boas notas e jogava ténis. Era supostamente feliz. Não olhava para Rainhas, Senhoras, mulheres, raparigas e oferecidas. Não queria saber elas de nada me valiam se nem sabia o que lhes dizer.
Jogava ténis. Continuava supostamente feliz.
Fui ao médico. É detectado um problema na coluna ao que se conclui que tenho de deixar de jogar ténis. Deixei de jogar ténis. Fiquei supostamente infeliz.
Continuava a estudar. Tirava boas notas.
Fiz quinze anos. O jogo mudou, agora embebedo-me de sexta a domingo. Sempre neguei o alcool. Menos agora. Agora agradeço quem mo oferece. Não fumo, acho estúpido e não gosto da "pinta" do fumador.Ando mais cansado que na altura em que só queria desporto e mesmo assim ainda não percebi que é pela má alimentação e por fazer o que só faria, se fizesse, por volta dos vinte anos.Era chamado de garanhão. Todas me queriam conhecer na escola. Era atraente e sabia bem disso. Dava uso ao que os meus pais me tinham dado e resultava. Resultava bem.Namorei com esta e com aquela com a outra que afinal era bem melhor que as outras duas juntas.
Namorava para elas, para mim não passava de um andar de mão dada no intervalo, á hora de almoço e ao domingo. Nunca percebi o domingo, porque razão é que é o dia de namorar domingo? Não é suposto ser todos os dias se der??Elas andavam todas de nariz empinado por namorar comigo. Eu anda de nariz empinado para ver se via algum café com uma boa esplanada para beber um fino. Ou mais. Nunca fui de beber só um. Nem na primeira bebedeira. Primeira bebedeira? Quando foi? Isso. Façam-me perguntas dificeis e desagradaveis agora. Não sei não me lembro. Vou fazer dezasseis anos agora portanto foi para aí á um ano.Um ano sempre no mesmo andamento. Como me alterei. Era um bom exemplo. Agora sou um exemplo bom, a não seguir.
Elas gostavam do meu ar ressacado e de quem acabou de acordar no sofá. Ressacado mas com boa roupa. Sim porque agora o que se gastava em raquetes e boas sapatilhas para desporto foi trocado para roupa de marca e de topo. Saldos como á dois anos anos atrás? Deves de andar louco.Era certo que gostavam de mim assim. Eu não percebia mas deixava andar. Sabia que se aquela me deixasse no dia a seguir recebia uma ou mais sms de uma rapariga interessada. Admito que seria mais que uma sms.Era admirado, muito, pelo simples facto de se "namorasse" era fiel. Muito. E elas sabiam disso. Elas comigo tambem eram. Espero e penso eu.
Acredito que foram.Só precisava do telemovel para falar com os meus amigos, poucos, e com ela.Os meus pais olhavam todos os dias para mim tristes não pelo que eu agora mas sim pelo que poderia ser. A minha mãe chamava-me todos os dias á atenção pela vida que andava a levar. Eu prometia que aos vinte as coisas mudavam. A minha mãe fazia fechava os olhos. Eu deva-lhe um abraço e dizia que podia ser bem pior.A minha mãe dizia-me para ultrapassar o que se tinha passado e para acreditar em alguma coisa. Perguntei-lhe o quê. Disse-me amor. Ri-me. Mal sabia eu o que me esperava. Dizia-lhe que nao sabia do que se tratava e que ainda nem o tinha visto. Voltava a fechar os olhos. Era maravilhosa a minha mãe.
Mudei de escola. Mudei de notas. Mudei de "namorada". Não mudei de vida. Andava ainda a beber mais. Agora tinha companhia. Os meus amigos bebiam tanto ou mais do que eu. Dependia da bebida. Era fraco nos shots. Eles sabiam e por vezes lixavam-me. Eramos poucos. Valiamos por muitos.
Agora já nem para estudar dava. Tinha festas á semana e o resto já se sabe.Dormia muitas vezes no sofá e fui apanhado muitas vezes pelo meu pai. O meu pai só olhava para mim nao me dizia nada. Dizia-me muito o olhar dele. Homem alto. Grande Homem. Homem da minha vida.Rapidamente já era conhecido pela escola toda, pela vida que levava pela maneira que andava vestido e pelas raparigas que caiam no meu encanto.Os meus pais ganhavam bem. Muito bem. Daí as noites correrem ainda melhor.
Ouvia muita música. Muita mesmo. Mas não ia para a noite para ouvir música ia para beber. Somente isso. Beber até me lembrar o tão patético que foi o meu amor pelo ténis. Pelo desporto. Bebo até me lembrar do certinho que era. E da suposta felicidade que eu sentia na altura. Bebia até ficar bebado e torto. Quem me conhecia já sabia que se eu saisse naquele dia á noite que o telemovel ficava em casa. Naõ valia a pea levá-lo. Não o usava.Por vezes a que estava caida no meu encanto ia comigo. Umas bebiam, não tento como eu mas sempre faziam companhia. Outras iam uma vez e não iam mais. Preferiam nao me ver naquele estado. Continuava fiel. Elas continuavam a gostar. Eu continuava a beber. Continuava supostamente infeliz.
Estava magro. Muito pelos vistos. Gostava de ir a pé para a escola. Mesmo com dezassete gostava. Ajudava. Se estivesse resacado o fresco na cara ajudava a encarar a primeira aula de outra maneira. Se nao tivesse ido para a noite ajudava a pensar na vida. Não gostava muito de pensar na minha vida. Nem de falar da vida dos outros. Gostava era de me por na vida dos outros. Trocar de vidas. Era divertido mas, preferia beber.Detestava que me chamassem bebado ou alcoolico. Agora já nem diferença me fazia.
Tinha roupas bonitas e caras. Cada vez mais caras. E "namoradas" cada vez mais bonitas. O famoso amor que a minha mãe me falava ainda não me tinha batido na cara. Não sentia nada pelas raparigas. Era impressionante. Algumas souberam disso, outras preferiram nem perguntar. Eu não mentia, dizia que não sentia nada e para não fazer muitos planos acerca daquilo.O domingo agora era cada vez mais dificil para estar com elas. Menti algumas vezes só para dormir. Elas não matam mas, aleijam.Fiz dezoito e não me deixavam tirar a carta. Se eu fizesse a promessa que acalmava eles deixavam. "Com a vida que levas nao!" era o que me era dito. Eu aceitava com um encolher de ombros e seguia em frente.Sentia-me acabado e sempre a precisar de dormir. Tinha sempre muitas olheiras. Elas disso não gostavam muito. Eu não me interessava. Havia sempre alguém encantada comigo. Tinha sorte mas não era supostamente feliz.
Um amigo meu já vivia sozinho. Iamos para casa dele algumas vezes depois das aulas. Beber, bebia-se mas também se fazia outras coisas. Falava-se essencialmente. Da escola, raparigas vocês sabem. Não andava de "trombas" nem a olhar sempre para o chão. Apenas ria-me pouco e tinha noção que havia gente bem pior que eu. Bem pior mesmo.Ele viva no quinto andar. Tinha elevador. Um grande elevador.Eles falavam muito da vizinhança. Diziam-me que havia uma pela qual eu ia ficar derretido. Ri-me, nao me derreto assim por uma mulher quanto mais por uma rapariga. Não me acreditava naquilo.~
Faltava um mês e meio para os meus dezanove. Eu sem carta. Os dezanove a chegar. Continuava a ir a casa do meu amigo.Naquele dia foi diferente. Muito diferente. Já não namorava á três meses. E as pretendentes eram algumas. Mas não me aptecia ninguém. Sentia-me bem assim. Naquele dia foi diferente. Na aula o pessoal disse para eu aparecer lá em casa do meu amigo. Eu não combinava horas desde os quinze anos. Dizia que aparecia e aparecia quando podia mas, aparecia. Quando dava a palvra dava a palavra. Disse que depois passava lá.Fui para casa. Tomei banho, jantei. Despedi-me dos meus pais. Nada como devia ter sido mas ao menos despedi-me.
Fui ter com eles. Não lhes dizia que estava a caminho nem nada do genero. Aparecia e pronto. Iamos sempre pelas escadas. Naquele dia foi diferente. Ia sozinho e quis ir de elevador. Esperei, esperei e de repente apareceu mais alguém. Eu percebi pelo bater da porta. Fazia uma barulho absurdo mas desigual a qualquer porta.Assim a porta fechou-se e veio alguém também esperar, como eu, pelo elevador. Não era costume nem olhar para o lado nem dizer "Boa noite." ou algo do gênero. Naquele dia foi diferente. Olhei e.... O que é isto? Que é isto aqui ao meu lado? Não consigo deixar de olhar. Minha nossa mas que beleza é esta? Que pureza e tranquilidade é esta? Pensei eu. E disse-lhe: "Bo bo bo boa noite." Merda! Agora virei gago? Eu não gaguejo com raparigas mas o que é isto. O que se passa afinal.Estava nervoso. Não me sentia assim desde os quinze anos. Parecia que ia para um jogo decisivo. "Boa noite!" disse-me e ajeitou o cabelo. Como adorava poder ver-te fazer isso mais vezes. Sorri para ti e perguntei se estava tudo bem. Acenas-te a cabeça. O elevador chegou. Finalmente. Sentia-me nervoso e corado. Maravilhoso. Sentia-me patético. Mas tu gostaste. Eu senti. "Para que piso vais?" fui apanhado de repente pela tua pergunta. Arregalei os olhos e pensei. "Ahh... Quinto piso!" Carregaste no quinto e no quarto. Soube logo qual era o teu piso. No segundo piso entraram dois homens. Tu como eras simplesmente maravilhosa e não sabias o quanto nao te apercebeste da "avaliação" que eles os dois te fizeram. Eu vi. Iamos frente no elevador. Eu de maõs nos bolsos e tu de sacos de lojas de roupa na mão. Tu olhavas para os teus sapatos. Eu para cima. Naquele dia foi diferente. Olhamos um no outro ao mesmo tempo. Eles olharam para ti. Mais uma "avaliação" sobre ti. Tu viste. Eu não. Não te agradou tal "avaliação" e olhaste para mim outra vez e mostraste-me os dentes. Adorável. Eu fiz te a cara do quem diz:"Deixa lá, com a tua beleza é natural que olhem..."Eles continuavam a olhar e a olhar. Tu sentiste sob pressão de tantos olhares e eu reparei nisso. Naquele dia foi diferente. Naquele dia mexi-me. Esperei que olhasses para mim. Sobre tanta "avaliação" sobre ti lá deixaste os teus sapatos e olhaste para mim. Não esperei mais, e fui em direcção a ti. Ficaste assustada mas eu não quis saber. Beijei-te na mesma. Oh, meu amor, trocava todos os finos que bebi até á data para repetir beijo como aquele. Finalmente senti-me bem ao beijar-te. Com as outras era somente troca de saliva. Contigo era troca de amor, paixão. Eu amava-te e tu também me amavas a mim.Eles deixaram de olhar para ti. Olharam para nós. Com eles podiamos nós bem. Saiste no teu piso. Estavas brilhante e vi que me amavas. Estava no céu. Agora percebia a minha mãe. Era como voltar a jogar ténis e a ser certinho. Melhor até julguei eu.Disse-te adeus em voz baixa. Não respondeste. Apenas sorrias e sorrias.
O elevador fechou. Fui ter com o pessoal. Cumprimentei-os e ofereceram-me logo alcool. Disse que não. Riram-se e perguntaram se estava doente. Diss-lhes: "Não. Estou apaixonado!"Disse-me o Roberto: "Estás bem pior então..." e rimo-nos todos. Não bebi alcool naquele dia. Só pensava em ti e no próximo beijo.Saí de casa deles. Era tarde. Muito. Ia sóbrio. Naquele dia foi diferente. Naquele dia ao atravessar a passadeira fui atropelado.
Naquele dia foi diferente. Naquele dia morri. Não levava alcool em excesso comigo. Levava um beijo teu, e chegou bem.

7 comentários:

Anónimo disse...

Acontece... que estou sem palavras. Petrificada com este texto!

Rita disse...

Estou petrificada tambem! Em especial com os erros, nao te deste ao trabalho de reler o texto, há trocas imperdoáveis, Mauro.
Shame on you.

Anónimo disse...

Envolveu-se de tal forma no texto que se esqueceu, certamente, de o reler. (:
Mas mesmo assim, está um belo texto!

Anónimo disse...

Namorei com esta e com aquela com a outra que afinal era bem melhor que as outras duas juntas.
ri-me muito com isto!! :)

eu tambem nunca entendi os domingos, nm as pessoas que acham q esse dia é para namorar --´

os teus pais tiveram muito que aturar :) e aposto que agora estao muito orgulhosos da pessoa que es! e vejo que tu tambem estas deles ;)

adorei a parte em que a beijaste ;D vou começar a andar mais vezes de elevador pode ser que um dia encontre uma pessoa que surpreendentemente me beije :D

Ainda bem que morreste pelo "amor"

Rita disse...

Desleixe precário independentemente da envolvencia com o texto, oh anonimo.

Tenis? Vindo de onde vens devia ser algo relacionado com água ou praia.
Muitas raparigas..pois. Toda a gente sabe que a maioria delas gosta de bad boys, vá se lá entender porquê.

Mauro Calado disse...

Obrigado a quem gostou. :D
São momentos tão repentinos que por vezes cometo erros. Não tenho perdão de qualquer das maneiras mas são coisas a melhorar.
Não quero que pensem que isto é uma imiagem minha. Não sou eu nem nada do meu passado. Apenas viagens na maionese.
=D

Anónimo disse...

independentemente de ser ou nao, eu estou a adorar!